quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Ravings of a mad man

O dia de hoje é de quase sonhar. Como tantos outros, acontece ao som de uma música alegre, cujo contexto é o seu próprio contexto.

O dia de hoje é o reflexo pálido de um hoje ideal, inexistente; e os seus impulsos circulam na rede de pesca imposta pelo paladar de todas as coisas, sem sentido nenhum que esse seu próprio - ameno, egocêntrico e antropologizante.

O dia de hoje é como fumo de tabaco: sente-se, cheira-se, paira, mas não se apanha, excepto por papéis e paredes. Um hoje poroso, permeável.

As notícias das cinco - ou das sete - parecem notícias das cinco de todos os dias, e de dia nenhum. Um dia especial como todos os outros, ao som da sua própria batida - diferente, mas repetitiva. Entre os capítulos de cada episódio, desenham-se as letras do que se escreveu amanhã, misturadas com os títulos de ontem. Hoje.

Eu? Levanto-me e danço. Salto, corro, circulo os pés nas pegadas desenhadas a tinta invisível, imperceptíveis para mais ninguém. Sou louco, dizem. Dizem; mas não me dizem. Olham-me com a complacência dos condescendentes. Sorrio e fecho os olhos.

Aqui, tudo me ama e me odeia. Mas, acima de tudo, tudo se reduz ao silêncio e espera o mesmo de mim. Nada sorri, ou condena. Nada me diz que estou ou não estou. Como um exército de eus, materializado em cadeiras e madeiras e mosaicos, me repito; se escrevo, tudo escreve comigo. Se me calo, todos se calam comigo. Se danço, todos ganham asas e me levam onde sempre quis ir e nunca fui...

Triste é sonhar que se é louco e quase sê-lo. Hoje, como todos os dias.

Sem comentários: